Muito se fala sobre a melhora
genética pela qual a raça Gir passou no passado recente, processo este que
vemos dia a dia nos currais espalhados pelo país, este processo se intensificou
com a popularização do teste de progênie da ABCGIL e com a volta da raça aos
holofotes, saindo da obscuridade que se manteve durante anos e se tornando a
principal opção para produção de leite a baixo custo em áreas tropicais ou na
produção de raças sintéticas (Girolanda, etc), agregando rusticidade e
produtividade que vem aumentando gradativamente com o passar dos anos, vemos a
cada exposição recordes em torneios leiteiros sendo quebrados com certa
freqüência, falei sobre isto no blog girpaineiras.blogspot.com, e hoje há quem
fale que com um certo coquetel de medicamentos é possível fazer qualquer vaca
produzir mais de 10.000kg em uma lactação, mas será que esta genética que
estamos selecionando com animais tratados com fármacos são realmente melhores
na hora de transformar capim em leite?? Alguns indícios de que nem sempre os
animais que são melhores na cocheira repetem estes bons resultados a pasto, um
bom exemplo é o Teatro da Silvânia, touro que para mim é um dos grandes pilares
da raça produzindo filhas com sistemas mamários impecáveis, mansas e raçudas,
porém tem PTA negativo no sumário da ABCGIL e ao mesmo tempo produz filhas
campeãs de torneios leiteiros, pelo fato de ser uma linhagem que produz animais
mais exigentes e que respondem bem com um trato mais refinado, mas que a pasto
não mostram todo o seu potencial e ficam muitas vezes para trás de outras
linhagens.
Tive acesso a alguns dos
ingredientes do tal “coquetel” responsável por fazer matrizes Gir produzirem
mais de 30kg/dia de média durante 305 dias de lactação, É LEITE PARA TODO LADO!! Dentre estes fármacos
há vitaminas do complexo B para aumentar a resposta do animal ao manejo devido ao fato de
participar das diversas reações de um complexo ciclo dentro das mitocôndrias (parte celular que
produz energia), minerais como iodo para estimular o apetite, aminoácidos para
uma melhor síntese de proteínas, um protetor gástrico e hepático, um
estimulante do trânsito gástrico, estimulantes das funções circulatórias (maior
aporte de sangue para o úbere), respiratória e cardíaca, além do bST e GH
(hormônio do crescimento), dois hormônios que aumentam a produção de leite e
proteína, ambos são liberados pelo FDA dos Estados Unidos e há diversos
trabalhos relatando que não são liberados na forma ativa no leite em
quantidades preocupantes para a saúde humana, porém na Comunidade Européia
estes não são aceitos e são proibidos, em resumo dão alguns fármacos para
aumentar muito a produção e outros para evitar os problemas que estes podem
acarretar, agora se o leite produzido por estas matrizes são ou não perigosos
para a saúde humana é preciso que haja trabalhos afirmando tal fato, pela literatura
e um tanto controverso, os que defendem o uso fazem trabalhos que estes
fármacos não causam dano nenhum aos humanos, por outro lado os que lutam para
que os animais sejam criados da forma mais natural possível afirmam que causam
diversas doenças, o famoso “cada um puxa a sardinha para o seu lado”. No meu
entender devemos usar as lactações altas para ver até onde a raça pode chegar,
mas não podemos tirar isto como base para fazermos uma seleção de uma raça que
é voltada para animais criados a pasto, vacas que devem buscar o seu alimento,
serem boas de aprumos, tetos acima do jarrete, touros com bons umbigos, entre
outras características, temos que lembrar que o Gir deve viver de pé sujo,
pisar na terra e não no concreto. A atividade leiteira não permite que o
produtor tenha prejuízo na hora da ordenha e o preço do leite nunca foi um
grande atrativo à atividade, penso que o caminho a se seguir é , valorizar
também a seleção feita a campo, provas de leite a pasto estão surgindo, temos a
da APCGIL, da AMCGIL e a da GirGoiás, todas em inicio, uma bela iniciativa de
mostrar o valor da raça no pasto. Não sou contra altas lactações nem torneios
leiteiros, acho estas duas grandes ferramentas de marketing e divulgação, mas
não representam a realidade da maioria dos criadores e até me provem não sei se
um touro filho de uma vaca de 12.000kg confinada produz melhores filhas do que
um touro que é filho de uma res de 4.000kg a pasto. O importante é não
transformarmos o Gir em um holandês de várias pelagens, orelhas grandes e chifres para baixo, e sim
neste fenômeno de raça que anda povoando cada vez mais os currais e que a cada
dia conquista mais o seu espaço, mas devemos fazer de forma duradoura, que
venha para ficar e ocupar o lugar que é seu de direito, o de melhor zebu
leiteiro.
Vacas Gir criadas a pasto |