quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Seleção de Hoje para o Gir de Amanhã


Muito se fala sobre a melhora genética pela qual a raça Gir passou no passado recente, processo este que vemos dia a dia nos currais espalhados pelo país, este processo se intensificou com a popularização do teste de progênie da ABCGIL e com a volta da raça aos holofotes, saindo da obscuridade que se manteve durante anos e se tornando a principal opção para produção de leite a baixo custo em áreas tropicais ou na produção de raças sintéticas (Girolanda, etc), agregando rusticidade e produtividade que vem aumentando gradativamente com o passar dos anos, vemos a cada exposição recordes em torneios leiteiros sendo quebrados com certa freqüência, falei sobre isto no blog girpaineiras.blogspot.com, e hoje há quem fale que com um certo coquetel de medicamentos é possível fazer qualquer vaca produzir mais de 10.000kg em uma lactação, mas será que esta genética que estamos selecionando com animais tratados com fármacos são realmente melhores na hora de transformar capim em leite?? Alguns indícios de que nem sempre os animais que são melhores na cocheira repetem estes bons resultados a pasto, um bom exemplo é o Teatro da Silvânia, touro que para mim é um dos grandes pilares da raça produzindo filhas com sistemas mamários impecáveis, mansas e raçudas, porém tem PTA negativo no sumário da ABCGIL e ao mesmo tempo produz filhas campeãs de torneios leiteiros, pelo fato de ser uma linhagem que produz animais mais exigentes e que respondem bem com um trato mais refinado, mas que a pasto não mostram todo o seu potencial e ficam muitas vezes para trás de outras linhagens.

Tive acesso a alguns dos ingredientes do tal “coquetel” responsável por fazer matrizes Gir produzirem mais de 30kg/dia de média durante 305 dias de lactação, É LEITE PARA TODO LADO!! Dentre estes fármacos há vitaminas do complexo B para aumentar a resposta do animal ao manejo devido ao fato de participar das diversas reações de um complexo ciclo dentro das mitocôndrias (parte celular que produz energia), minerais como iodo para estimular o apetite, aminoácidos para uma melhor síntese de proteínas, um protetor gástrico e hepático, um estimulante do trânsito gástrico, estimulantes das funções circulatórias (maior aporte de sangue para o úbere), respiratória e cardíaca, além do bST e GH (hormônio do crescimento), dois hormônios que aumentam a produção de leite e proteína, ambos são liberados pelo FDA dos Estados Unidos e há diversos trabalhos relatando que não são liberados na forma ativa no leite em quantidades preocupantes para a saúde humana, porém na Comunidade Européia estes não são aceitos e são proibidos, em resumo dão alguns fármacos para aumentar muito a produção e outros para evitar os problemas que estes podem acarretar, agora se o leite produzido por estas matrizes são ou não perigosos para a saúde humana é preciso que haja trabalhos afirmando tal fato, pela literatura e um tanto controverso, os que defendem o uso fazem trabalhos que estes fármacos não causam dano nenhum aos humanos, por outro lado os que lutam para que os animais sejam criados da forma mais natural possível afirmam que causam diversas doenças, o famoso “cada um puxa a sardinha para o seu lado”. No meu entender devemos usar as lactações altas para ver até onde a raça pode chegar, mas não podemos tirar isto como base para fazermos uma seleção de uma raça que é voltada para animais criados a pasto, vacas que devem buscar o seu alimento, serem boas de aprumos, tetos acima do jarrete, touros com bons umbigos, entre outras características, temos que lembrar que o Gir deve viver de pé sujo, pisar na terra e não no concreto. A atividade leiteira não permite que o produtor tenha prejuízo na hora da ordenha e o preço do leite nunca foi um grande atrativo à atividade, penso que o caminho a se seguir é , valorizar também a seleção feita a campo, provas de leite a pasto estão surgindo, temos a da APCGIL, da AMCGIL e a da GirGoiás, todas em inicio, uma bela iniciativa de mostrar o valor da raça no pasto. Não sou contra altas lactações nem torneios leiteiros, acho estas duas grandes ferramentas de marketing e divulgação, mas não representam a realidade da maioria dos criadores e até me provem não sei se um touro filho de uma vaca de 12.000kg confinada produz melhores filhas do que um touro que é filho de uma res de 4.000kg a pasto. O importante é não transformarmos o Gir em um holandês de várias pelagens, orelhas grandes e chifres para baixo, e sim neste fenômeno de raça que anda povoando cada vez mais os currais e que a cada dia conquista mais o seu espaço, mas devemos fazer de forma duradoura, que venha para ficar e ocupar o lugar que é seu de direito, o de melhor zebu leiteiro.

Vacas Gir criadas a pasto

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