segunda-feira, 18 de abril de 2011

Discussão sobre o uso de bST

Muito se falou nesta semana sobre o uso do bST (somatotropina bovina) na produção de leite, isto porque no site www.portaldogir.com.br o jornalista e girista Rosimar Silva divulgou um dado alarmante, de que o leite produzido nos torneios leiteiros não são aproveitados e tudo o que é produzido é destinado ao lixo, esta reportagem reacendeu uma polemica sobre o uso de artifícios para fazer com que matrizes produção lactações altíssimas. Antes de tudo precisamos entender como o bST funciona como será explicado abaixo.

- A somatotropina bovina é um hormônio produzido naturalmente pelos bovinos através da hipófise e regula o crescimento e a mobilização de reservas de energia (gordura e músculos), aumenta a produção de IGF-1 (Fator de Crescimento Semelhante à Insulina Tipo 1) uma molécula importante secretada no sangue onde realiza diversas processos e também e excretada no leite onde faz com que as células musculares dos bezerros se multipliquem, causando assim o melhor desenvolvimento do recém nascido.

- Efeito do bST na produção de leite: a somatotropina bovina disponibiliza ao organismo uma maior quantidade de nutrientes através da mobilização do estoque de energia, sendo assim a fêmea bovina tem um maior aporte de energia para ser consumido durante a lactação, causando um acréscimo de 10 a 20% na produção de leite. Importante salientar que nem todos os animais podem receber a injeção de bST, somente aqueles que estiverem trabalhando em balanço energético positivo e que possuam uma reserva de gordura satisfatória.

- O efeito do bST na reprodução: o uso de somatotropina bovina causa alterações na manifestação de cio por parte das vacas, ou devido ao acréscimo na produção de leite que causa a depuração mais rápida dos esteroides importantes pela manifestação de cio ou por uma ação direta no cérebro, com o uso da IATF (Inseminação Artificial em Tempo Fixo) este problema pode ser solucionado, já que a falha na observação de cio é minimizada.

a) A aplicação de bST causa melhorias na reprodução de fêmeas bovinas através da maior produção de IGF-1 que melhora a sobrevivência embrionária e a taxa de prenhez, isto devido a melhor maturação dos oócitos. Receptores de IGF-1 são encontrados em todos os estágios do embrião, mostrando a importância desta proteína no crescimento embrionário.

b) Outra ação benéfica do bST é quanto ao reconhecimento materno, isto é quando a vaca reconhece que a dentro do seu trato reprodutivo um embrião viável, isto se dá através da ativação de receptores situados dentro do útero que sinalização ao trato reprodutivo da matriz para não produzir PGF2α (prostaglandina), o receptor responsável por esta mensagem produz uma molécula chamada Interferon-tau (IFN-Τ), a aplicação de bST estimula o aumento de produção desta proteína evitando assim a produção de PGF2α e consequentemente um aumento na taxa de prenhes.

Não é de hoje que o mundo caminha para a produção de alimentos que visem o bem estar do animal e uma maior segurança alimentar, a União Europeia levantou esta bandeira a alguns anos e luta para as populações de seus países membros consumam alimentos produzidos de forma natural, entre os alvos a serem combatidos por eles se encontra a somatotropina bovina, pois estudos mostraram que após a aplicação deste hormônio a quantidade de IGF-1 secretada juntamente com o leite é muito maior do que o fisiológico, o que segundo os estudos pode levar ao aumento da multiplicação celular, e se isto for de forma desordenada, ao câncer. No Brasil e nos Estados Unidos o uso de bST é permitido, a discussão frente a este tema não é tão simples, será que vale a pena arriscar para produzir alimentos de segurança duvidosa? Mas e se este aumento na produção puder ajudar a acabar com a fome em países pobres, será que não seria vantajoso? Bons argumentos existem de ambos os lados, o que deve imperar é o bom senso e o dialogo.

2 comentários:

SEJ Johnsson disse...

Bem informado.
Andei lendo que o BST também, como efeito colateral, maximiza oócitos nas coletas de FIV.
Qual a sua experiência e conhecimento a respeito?
Também tive informações que na raça Gir a resposta ao BST varia muito de animal para animal.
Finalmente, em quase tudo que li a respeito de BST, recomenda-se o início de aplicação após o pico de lactação... não acredito que seja o que venha sendo feito no Gir.

Gir das Paineiras disse...

SEJ, o uso do bST ajuda na reprodução por melhorar a qualidade dos oócitos, aumenta a qualidade de células do cumulus (pequenas células que ficam ao redor do oócito e quanto mais tiver melhor), isto pq a somatotropina aumenta a multiplicação celular, o bST ajuda tb na coleta de embrião por TE.

Quanto ao Gir ser muito variavel eu não tenho esta informação, mas acho perfeitamente possivel por causar uma resposta variável até mesmo no HPB, encontrei estudos onde a resposta varia de 7 a mais de 40%, entra o efeito animal, provavelmente seria preciso achar as familias que respondem melhor ao bST, bem que não acho a forma correta de fazer seleção.

Sobre a época de aplicação, é interessante o animal ter uma boa reserva de gordura e isto só ocorre depois do pico de lactação, se não o animal não responde corretamente já que não tem reservas para mobilizar. Sabe-se que até o segundo mes de lactação muitas vacas trabalham com balanço energético negativo, isto é, produzem mais leite do que ingerem matéria seca (comida), sendo assim consomem a reserva de gordura, se neste periodo vc usar o bST além de não causar muito efeito, ainda é perigoso causar problemas mais sérios na matriz, os criadores precisam se atentar para isto.

Abraços